Consultar a mais famosa ferramenta de busca na internet se tornou parte do autodiagnóstico
Uma vez a internet servia para as empresas cruzarem dados fisicamente distantes. Depois foi para a comunicação, entretenimento. Agora ela faz parte da avaliação da saúde.
Aquela dorzinha de barriga que a vó curava com um chazinho de ervas do quintal agora virou cólica abdominal. Joga no Google. Pode ser sintoma de um trilhão de doenças. Então você tenta ser mais específico: cólica abdominal pulsante sem diarreia. Diagnóstico fechado: Síndrome do Cólon irritável. Corre para a farmácia se auto-medicar.
Daí nascem os bebês e, coitadinhos, lá vão eles para a consulta com esse doutor.
“Meu Deus, o bebê espirrou três vezes seguidas!”
O pai, já preocupado, começa com a lista de possibilidades:
“É alergia, é gripe, entrou algum corpo estranho no nariz dele!”
Vão pesquisar o que é um espirro e tá lá, numa página qualquer: “o espirro é um espasmo pulmonar geralmente causado por um agente invasor ao sistema respiratório. As consequências podem levar a lesões pulmonares irreversíveis.”
Choque. Não pode ser. Tentam ser mais específicos. Jogam no Google: bebê que espirra muito. Pode ser um simples resfriado, mas na página 17 do buscador há uma indicação de que pode ser embolia pulmonar.
Palpitação. Dos pais. O bebê continua sem entender patavinas da conversa. Está ali, esperando a outra mama.
“Ele não tem febre, amor, mas, olha, tô achando a cabecinha dele mais molinha. Será?”
Google: espirro bebê moleira mole.
O pai empalideceu.
“O que foi? O que é? O que tem nosso filhinho?”
“Calma, amor, vai dar tudo certo. A medicina é muito avançada, e descobrimos no começo. É uma meningite, mas vai passar. Vai passar.”
Catam a mala, a cuia, e partem para o pronto-socorro.
“É meningite, moça.”
Nem ficam na sala de espera, pois pode ser contagioso. São atendidos rapidamente.
O médico faz a anamnese: “Teve febre? Vomitou? Diarreia? Está mamando? Evacuando normal?”
Ausculta, avalia.
“O bebê não tem nada, está sadio!”
“Mas ele tem todos os sintomas de meningite, doutor.”
O doutor receitou passiflora. Pros pais.
Já na porta, um último conselho:
“Esse doutor Google não fez faculdade de medicina, viu?”
Às vezes é a gente que complica as coisas que vieram para facilitar.
kkkkkk ótimo texto!
Muito bom! Texto divertido e bem escrito! Parabéns! 🙂