Bons pais não são aqueles que protegem os filhos de qualquer mal, mas os que os ensinam a se virar num mundo cheio de perigos.
Se você chegou até este blog é porque ou já é mãe ou está pensando em sê-lo. De qualquer maneira, temos algo em comum: a coragem de se arriscar numa experiência sem volta. Ser mãe é como encarar uma montanha-russa, um salto de pára-quedas, com diferença que não dá para desistir no meio do caminho. Ao decidir ser mãe, não sabemos o que nos espera: se uma gestação tranquila ou cheia de complicações, se um filho saudável ou uma nova vida de superação, se a prole será exemplar a vida toda, ou se teremos percalços no meio da jornada. Não dá para saber nosso futuro. Ser mãe é se arriscar. Viver é arriscar.
Engraçado é que depois que nossos filhos nascem, esquecemo-nos disso, e passamos muitas vezes a criar crianças numa redoma. Babás-eletrônicas que monitoram sinais vitais, protetores de tomada, redes de proteção, cintos, travas, até coleira para lugares de maior movimento. Nosso olho clínico maternal nos faz enxergar os perigos no parquinho, no salão de festas, na casa da avó.
Dia desses li um artigo sensacional de uma psicóloga que também é mãe, a Fernanda Furia, que fala justamente sobre a importância de as crianças se arriscarem e de como o perigo pode ser pedagógico. Lá tem um infográfico maneiríssimo sobre como o medo pode limitar a brincadeira e dar uma falsa sensação de proteção.
Estamos tão sobrecarregados de informação, que é mais prático limitar a brincadeira da criança do que supervisioná-la e ensiná-la sobre os riscos e os perigos.
Outra coisa em jogo é nossa auto-cobrança: se algo acontecer à criança, nos sentiremos culpados, fracassados em nosso ofício de pais. Mas já diria a sábia Dori em “Procurando Nemo”: “Se você não deixar que nada aconteça com Nemo, então nada vai acontecer com ele.”
Arriscar é se aventurar, descobrir, aprender. Não falo aqui que colocar nossas crianças frente a frente com o perigo, mas apenas deixá-las experimentar os limites, a lidar com o medo, a superação e a consequência de suas escolhas. Deixar a criança lidar com o perigo (e supervisioná-la nas aventuras) é uma forma excelente de se ensinar sobre responsabilidade, limites, respeito.
Até quando vamos proibir as crianças de utilizarem facas? Até que idade a criança deve ficar longe do fogo? Quando podemos deixar os pequenos sozinhos na piscina? Tudo depende do perfil da criança e de quanta segurança ela sente de saber que você está perto. De nada adianta levar as crianças à praia e deixá-las brincar sozinhas num exercício de risco, enquanto enfiamos a cara no livro ou no celular. Aquela repetição de “olha o que faço, mãe”, “veja o que consigo fazer, pai”, nada mais é do que a confirmação que a criança precisa para saber se ela pode arriscar mais ou não. Depende de sua resposta, de seu interesse. Seu “ã-hã” é tão castrador quanto levar a criança na praia e não deixá-la entrar no mar por medo, por exemplo.
Para aprender, precisamos nos arriscar ao novo. Fazemos isso o tempo todo sendo pais: encaramos o medo de dar banho no recém-nascido, nos aventuramos no primeiro passeio de carrinho pela rua, encaramos a jornada de ficar sozinha em casa com os filhos sem a ajuda de ninguém, sofremos nos primeiros dias de aula, deixamos as crianças participarem da excursão da escola… Imaginamos as piores catástrofes, mas lidamos com isso.
<<Mães e os pensamentos em catástrofes>>
É preciso deixar isso acontecer com nossos filhos: para aprenderem a lidar com perigos, frustrações, consequências e responsabilidade. Bons pais não são aqueles que protegem os filhos de qualquer mal, mas os que os ensinam a se virar num mundo cheio de perigos.
Luciana L F Fortunato diz
Muito bom…
Renata Karol diz
gostaria de saber se nao tem regrinhas para as criancas acima de 15 anos. Pq gostei mt da ajuda em casa
Renato B. diz
Legal, tempos atrás traduzi/resenhei um artigo sobre o mesmo assunto que concorda 100% com essa idéia. Incluindo dados de outras pesquisas sobre o mesmo assunto.
http://teclogos.wordpress.com/2016/06/01/brincadeiras-arriscadas-porque-criancas-adoram-e-precisam/